segunda-feira, 15 de junho de 2015

Nada, como eu

Confesso que me comovem os Homens simples, de imagem e postura esculpidas no ateliê do sorriso fácil e olhar expressivo, ávidos de atenção, de momentos de subversão do status da ausência, dolorosa, porque decorrente da indiferente presença de outros, de confusa proveniência, mas de diversa proeminência, postura, e até, prepotência.
Esses, os que me comovem, cujo tempo socalca o rosto, endurece a pele, subtrai o esmalte e ofusca o brilho, mendigam o tempo, de partilha, comunhão, participação.
Presentes, estão ausentes, ocupados em tarefas importantes, relevantes, que não dispensam o uso da mão, gretada e forte, desses, ausentes, sempre presentes, mendigos do tempo, de atenção, reconhecimento, gratidão.
Esses, os que me comovem, ocupam o espaço, vazio, na multidão da indiferença, olham em redor, com olhar expressivo, e percebem a ausência da consciência da sua presença, são nada, nadas, numa solitária existência, individual ou adicionada, mas cuja soma é, invariavelmente, nada.
Suceder-se-ão os dias, os meses, os anos, e esses, os que me comovem, limitados no tato, no afeto, na atenção, continuarão a ver subtraída a razão adstrita à nobre ilusão de, sendo o que são, serem, como os outros, parcelas de uma mesma adição.

Aos Homens simples


2 comentários:

  1. Aventureiro das palavras, qual empreendedor crítico e criativo.... (em https://eusouempreendedor.wordpress.com/)

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  2. :)) OBG! EXCELENTE! Urge mais respeito pela História, pelos outros e por nós mesmos... Na verdade " Somos responsáveis pelo que somos e podemos converter-nos naquilo que desejamos ser. /... O homem move-se por vários motivos; não pode haver ação sem motivo que a determine. Algumas pessoas desejam ser famosas e trabalham para isso. Outras ambicionam dinheiro e lutam por ele. Outras buscam poder e esforçam-se por o alcançar. Há as que desejam o céu e tentam conquistá-lo. Há as que querem imortalizar o seu nome. /...
    Há, porém, aqueles que trabalham por amor ao trabalho, sem se preocupar com recompensa alguma. Trabalham simplesmente também porque o trabalho lhes faz bem. Há outros que beneficiam os pobres e a humanidade por motivos mais elevados: só por amor ao bem. Quando se pretende o renome ou a fama, raramente se conseguem resultados imediatos, pois geralmente eles são alcançados quando já estamos velhos e fatigados desta vida.
    Se um homem trabalha sem motivo egoísta ganhará o altruísmo que é a maior recompensa, melhor mesmo do que a saúde. /... Amor, verdade e altruísmo não são meras figuras de retórica, sem as realidades que devem constituir o nosso elevado ideal, mesmo que seja apenas pelo poder que estas qualidades lhe confere." SWAMI VIVEKANANDA, em "Educação da vontade".

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